quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
PACOCHO CORBEIRA - GALIZA
Boto a faltar o son da túa gaita. Poño a vella casette na pletina. Non é doado. Teño que esquecer pensar que es ti. Pero non podo. A gaita está deitada, baleira, no chan frío. Non podo deixar de ver esa imaxe. Soa a música. Lembro perfectamente aquel concerto. Ti soprábaslle a orixe mesma da vida, de onde ven o alento, invadíndoo todo dese son que é espello dos ritmos nos que nós recoñecémonos. E por riba de todo unha parte de ti, que non sei definir. A guinda que puñas, ese plus, valor engadido, feeling, ou coma queiras chamalo. Como se as notas do teu pentagrama viñeran unha tras doutra, collidas da man, e nese punto, se fundiran. Como se converteras en curvas tódalas arestas. Como se modularas cada nota para arrincar da gaita un pouco máis aínda. E a gaita estaba viva. Cheiraba a irreprimible xuventude, a taberna, a campo da festa, a rúa, a esmorga e a foliada. Sinto a saudade do son da túa gaita. Pero teño que apagar esa música. Non é mais ca unha vella gravación sen matices, sen todo o demais, e tamén, sen ti. As cousas, para o teu coñecemento, non foron nunca máis iguais. Quedou o teu xeito, o teu espírito, a túa música. E iso témolo todos os que te coñecemos, os que te escoitamos, dentro de todos nós, e xa é parte de nós mesmos.
Para Carlitos Zaera (In memorian)
domingo, 11 de dezembro de 2011
JOÃO SOUSA - PORTUGAL
Olhava
de lado. Desconfiava sempre da luz amarela dos candeeiros que
atormentavam o quarto por entre os buracos do estore. Os camiões
carregavam em simultâneo o ruído e as mercadorias - símbolos da
distância duma nova aurora. Os sonhos tornavam-se autoestradas, e
vagueava entre as portagens da alma e os postos de serviço que a
despertavam para a vida.
Não tinha carro e sabia bem como andar
entre os comboios e os autocarros da vila. Sentava-se ou ficava de pé
numa das carruagens do metro... e olhava como só as carruagens à frente
se moviam. A sua estava parada mesmo com o metro em movimento.
Os
pensamentos paravam entre as estações, e as recordações faziam um jogo
sujo entre o passado e o desejo de um futuro. Os frutos da sua
imaginação cresciam nas árvores asfixiadas pelos tubos de escape,
pelos bêbados que as mijavam e circulavam no próprio vómito e barulho.
As festas internas da sua convicção estavam fechadas a um número
específico de emoções, só algumas tinham entrada-livre.
A porta
do autocarro abria em cada paragem - as velhotas entravam e
atrapalhavam-se, contado trocos e pedindo desculpa ao poste fixo no meio
do autocarro, convencidas de que iam contra alguém. A poesia nascia
entre os prédio cada dia mais altos - versos cada dia mais baixos,
lágrimas cada dia mais soltas.
Os candeeiros apagaram e o Sol
acendeu o resto da casa. Era dia, e a noite não queria mais adormecer.
Com esforço, olhando para os bilhetes pré-pagos, bebia um café e fumava o
primeiro de muitos cigarros. Impressionantes, as figuras do fumo
espelhadas na alma.
sábado, 10 de dezembro de 2011
HUGO MALAINHO GARCIA - PORTUGAL
A morte saiu à rua num dia assim...
Numa passada frenética e descompensada, apressou-se a descer aquela imensa escadaria que abria caminho ao grande rio da cidade.
Não sabia o quê, mas algo o impelia nessa direcção. Olhava para trás,
por cima do ombro, mas não vislumbrava nada nem ninguém, a cidade estava
deserta. Contudo uma estranha sensação percorria-lhe as entranhas. Uma
força para a qual não encontrava qualquer explicação, perseguia-o há já
largos minutos pelas apertadas ruas do centro histórico. Um sopro de
vazio cruzava cada esquina. Não havia uma só alma vagueando na cidade,
outrora florescente e cheia de vida. Uma chuva miúda apoderou-se então
daquela noite fria.
Acelerou o passo, mas a força inexplicável teimava em não se afastar, sentia o seu bafo quente percorrer lentamente a sua espinha. Um turbilhão de pensamentos e de interrogações assaltavam a sua mente, catapultados pelo seu desespero.
“O que é que vem atrás de mim? Porque me persegue? E porque é que a cidade está vazia? Preciso de ajuda...”
A agua escorria agora pelo seu rosto empapado pela chuva, o passo
estava cada vez mais acelerado, palmilhando incansavelmente as estreitas
ruelas, procurando alguém que o pudesse ajudar.
Foi então que
sentiu uma pesada mão poisar sobre o seu ombro. Aterrorizado, parou.
Voltou-se para trás com o terror estampado no rosto. Em segundos, toda a
sua vida percorreu-lhe os pensamentos. Aqueles momentos especiais que
recorda com saudade da sua inocência de infância, os momentos em que ele
mesmo pode testemunhar essa inocência com o seu filho.
Lentamente,
como quem tem dificuldade em aceitar o seu destino mas que outra opção
não lhe resta senão encarar a dura realidade, abriu os olhos.
Subitamente, um frio sepulcral percorreu o seu corpo até se transformar
numa lágrima que esculpiu os seu olhos, era o seu filho que estava
diante.
Hugo Malainho Garcia
PACOCHO CORBEIRA - GALIZA
MORTE
Loitei contra a morte
na máis triste
de tódalas batallas.
E perdín.
Preguei a tódolos deuses
en que cren os homes
e o silencio foi vidro
en que estrelei a fe.
na máis triste
de tódalas batallas.
E perdín.
Preguei a tódolos deuses
en que cren os homes
e o silencio foi vidro
en que estrelei a fe.
Non serviron as armas
da ciencia,
da esperanza,
nin do amor.
Xamais houbo respostas.
Nin nunca as haberá:
serán os meus "por que"
como ecos no vento
ouveando sen parar.
Quedará a miña dor
para sempre comigo,
impedindo achegarme
ao teu recordo
e abeirarme nel.
Quedará a impotencia
de sabermos vencidos
onde xa nunca
voltaremos gañar.
E queda a certeza
de que xa non hai mañá.
Nin tan sequera nada
que pague a pena
conservar.
Que é tan só este momento,
este intre, apenas.
E a vida vaise xa.
PATB CM - GALIZA
Chovia na rua ,ninguen prestaba atencion nos seus ollos asomaban as baguas que ninguen escoitaba ,eran asbaguas do silencio ,da soidade que escoitan os pasos dos que veñen e se van ,dos que se abrigan ,dos que se mollan ,dos que retornan , dos que nunca se perderon ,os que ficaron en algures mais abagua e como un aullido no corazon de moitos que non teñen noticias ni parabens e un camiño sense saber se atoparas retorno e aporta feita con espiñas dos nomes de quen buscan e non atopan.Nais ,pais ,irmas,fillos e curmans todos viven e coñecen esa bagua que casi ninguen olla mais no se esquece
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
DIOGO GODINHO - PORTUGAL
De
súbito, já estava à porta. As ruas da madrugada vieram-lhe habitar os
escombros da isolação. Saiu à luz da alba. Cruzou avenidas, arrancou
cruzamentos, destapou ruas-ruelas, entranhou-se nos pulmões da cidade.
Respirou. Em cada baque agarrou as mãos ao batimento da urbe. Os carros
não passaram, as avenidas não se cruzaram, as passadeiras ficaram
inertes à espera do próximo trauseunte. Da cidade, o coração-baixa ficou
estanque. Inundaram-se de pálido todas as praças. Ninguém passou. Os
semáforos pararam. A sinalização dos semáforos comandou o destino para
onde já ninguém ia. Havia vermelho de sinais em progressão estática no
tempo. As luzes fecharam-se. Mergulhou na cidade.
De súbito, abriu a porta. Apagou as luzes que restavam da última noite. Fez-se ruído a bater nas orelhas do silêncio
que habitava as estradas. Saiu para a consumação do posterior dia.
Despiu-se dos escombros que o isolavam. Agarrou na coragem, guardou-a na
algibeira e acendeu um cigarro. Lentamente, a digressão dos seus passos
chacinou o peso da atmosfera que o engolia. Saiu para fora de tudo.
Saiu de casa. Percorreu a efeméride da urbe de uma ponta à outra. Os
seus olhos-de-lava evaporaram-se na submissão dos candeeiros. Queimou as
luzes. Acendeu de óleo novas estações. Disparou os motores em inércia.
Fechou os olhos. Dentro de si, recriou novamente a cidade.
De
súbito, cessou o sonho. Em distância, fechou a câmara da rodagem
nocturna. Colou as sequências, uma a uma, calçada atrás de calçada na
figuração geométrica do seu puzzle de sonhos. Juntou as visões, e o
meditar sobre elas. Havia sobriedade a passar no seu painel de vigília.
Guardou os livros na estante. Abriu a casa ao exterior. Em retardo, o
sémen da estrela de todas as manhãs veio iundar a casa. Arrumou a um
canto, o ébrio sonho em garrafas da noite anterior. Despiu-se da sua
manipulação de genesis num retrato de urbe ao relento no fim dos dias.
Não procriou. Abriu a janela. Lá fora, de súbito, havia uma cidade em
concrecto.
Diogo Godinho
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
EMILIO CAMBEIRO - GALIZA
Esta
noite pasada, voltando para a casa ás tres e pico da mañá, ao xirar
unha ruela calquera da Alfama profunda atopeime mesmo de frente a un
ruso impecabelmente vestido de branco, barbazas mestas, cabelo
longuísimo e mal coidado; a xogar cun puñal de 8 cms de folla branca
entre os seus fráxiles dediños.
Acojoneime. Acojoneime como
cando de novo ía roubar as fresas do tío Pedro e este botábanos ao
Soult, o seu pastor alemán. Mais de súpeto unha risada familiar
tranquilizoume; e máis tranquilizáronme as palabras a seguir á risada.
Non te preocupes Emilio, é Rasputín. Un colega. Mirei ao lugar de onde
viñera a voz, e alí sentados nunhas escadiñas estaba o Antonio Mira
xunto cun mariñeiro.
O mariño ergueu e chamou polo ruso. Despediuse cun aceno do Antón mentres eu seguía alí no medio, pet...rificado,
co medo pasado pola figura sinistra do tal Rasputín. Os dous individuos
perdéronse na noite entre as ruelas, mais podíase escoitar sen problema
a voz ronca do ruso a dicir: Viches Corto. Viches ise grande que case
morre só con me mirar? Sabes que se quixera o podería matar. Sábelo,
vérdade?
Boteille un brazo por riba ao Antón. Veña, preciso
dun trago. Dixen con pingas de suor frío a percorrer aínda a cara.
Mentres que encamiñabamos os pasos por unha rueliña diferente do que ía a
outra estraña parella.
Mais con quen é que te xuntas ti agora,
meu Antonciño. Acertei a dicir. Con outros coma nós. Respondeu o amigo
cun enorme sorriso.
Sabes? Aínda me caeu ben o tal Rasputín. Mais o outro, o mariño co que estabas sentado... tíñache unha cara de papahostias!!!
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
JOAO SOUSA - PORTUGAL
"Insónia" (da série "O Mundo Criou-se Sozinho")
Revivo a ausência de sono. Ou será a falta? Estou à tua espera há 2
meses e meio, a porta continua aberta… até porque perdi a chave do
cadeado e, já sabes, a fechadura foi arrombada e eu não tenho sessenta
euros para mandar por uma nova. Sem dinheiro não temos como mandar nada,
dar ordens a ninguém, fazer ponta de corno. Já sabes. Recorrentemente
vou indagando pelo tempo, como se tu soubesses tudo, como se a torneira
da cozinha não pingasse de 30 em 30 segundos, como se tu tivesses a
solução para o Mundo inteiro menos para mim.
Vou padecendo
desta enfermidade recorrente, uma doença do sono que dura 24 horas do
meu dia, e apenas uma hora do teu. Primeiro tentar deitar-te e conciliar
o sono com este acto que te ensinam logo que sais do útero. Depois,
quando concebes dormir na hora certa, vais acordando a meio de todas as
noites. E quando já és uma espécie de doente terminal (ou assim me disse
o médico e também a wikipédia), dormes a noite quase toda, e acordas às
5 da manhã, despertando 3 horas antes do comum, da hora do despertador,
da hora do autocarro, da hora do comboio, da hora da puta que te pariu.
Não consegui limpar a casa toda. Deu-me um ataque de asma súbito… o pó
subiu ao nariz. Sempre me disseste para ter cuidado com o pó no nariz.
Mas sempre me quis mostrar mais forte e capaz que qualquer outra pessoa.
E sou. Sou tão forte e capaz como qualquer outra pessoa inserida nesta
piscina de genes procriados e transformados, conforme o evoluir dos
tempos. Esqueceram-se de me moldar os genes para dormir o suficiente. Eu
não durmo o suficiente. É doença da alma? Se é doença da alma não há de
ser a limpar a casa e levar com o pó que melhorarei. Mas eu quero ficar
melhor?
Não me aborreças. Pára de me bombardear com termos
técnicos. A vida já técnica o suficiente sem esses teus termos. Fecha a
porta mas deixa a luz acesa, estou farto que me apaguem a luz quando
preciso dela acesa. E garanto que não é por culpa da merda da luz que
não durmo. Eu não durmo e ponto final. Ponto Final, parágrafo.
Não
tenho como pagar a conta do médico. Sei que podia ir para um público,
mas a vida é demasiado irritante sem dinheiro, quanto mais frequentando
hospitais ou centros de saúde públicos. Semi-públicos ou
pseudo-privados, heis a questão! Heis a grande escolha que um homem da
classe inexistente deve realizar. Coloca-me os problemas matemáticos que
quiseres e eu responder-te-ei sempre com uma solução baseada noutra
pergunta. Vou-te gerar problemas bem piores quando me pedires para te
responder seja ao que for. Desliga a tomada do candeeiro, mas não
apagues a luz do tecto, por amor de… por amor a mim, se ainda há.
Mais
uma e outra noite e eu continuo a ouvir o cão vizinho. O cão do
vizinho. É enorme e ladra muito. Para além disso faz lembrar uma espécie
de primeiro-ministro de uma ditadura democraticamente mascarada. Fala,
grita, e quando fala e grita faz com que todos os que fazem parte da sua
máquina governativa falem e gritem ao mesmo tempo. Esses, fazem com que
todos falem e gritem ao mesmo tempo. Cambada de fanáticos! A minha rua é
isto mesmo… um autêntico parlamento de cães… ou um dia de campanha
eleitoral de todos os partidos concentrados na mesma rua, das 22h às 4h
da manhã.
João Sousa, Zambujal (S.Domingos Rana), Outubro 2011
domingo, 27 de novembro de 2011
RHO DOURADO MCLEOD - GALIZA
Beyond the lochs of the blood of children of men...
Hoxe fiquei soa coas pantasmas que atormentan o meu clan. Subo ao meu
Cuillin particular e observo. Aínda o eco devolve golpes mortais da
Coire Na Creich. Sinto a presenza dos cervos e doume conta que Bruach
tamén fita abraiada para a mesma peza teatral.
Aló abaixo,
onde o ceo ten sempre a mesma cor, encóntrase o inmenso formigueiro de
tixolo que cobre o val da miña estirpe derrotada. Os meus ollos penetran
o ventre perpetuo e castigado cun parto infinito de exércitos escuros.
Formigas autómatas que gravitan nunha danza medida polo compás das
máquinas e a tonalidade das cores: vermello silencio, laranxa allegro,
verde adagio... o claxón imposíbel marca entre bambalinas o cambio de
escenario. Tempo inmediato, movementos prestos que deixan
a súa pegada na oronimia da pedra, o ferro e o alcatrán. Nada perdura
para sempre, evoluciona e reconvértese nun novo leitmotiv para furtivos
noctámbulos de dedo áxil e catro rodas. Aquí e acolá, xermolan intentos
de rebabiloniciacións imposíbeis fronte a Persépolis emerxentes, parches
seléucidas de conveniencia. O inmediato como eixo vertebrador.
Desde as montañas dos deuses negros escoito ese esperanto moderno, a
onomatopea mecánica do val de outeiros grises e árbores de ferro. Miro
ao meu redor, comprendo e escribo, no penedo sagrado, as palabras que
nos farán libres. Coa esperanza de que quizais, algún día, unha delas
erga a cabeza e descubra que non sempre foron formigas.
E, nese
preciso momento, Sorley susurra no meu ouvido: watchful, heroic, the
Cuillin is seen rising on the other side of sorrow.
Rho Dourado, Ribadeo. Novembro de 2011.
ALBERTO POMBO - GALIZA
"Tingida de azul violência"
Nasceu no meio de uma madrugada tingida de azul violência. Servos
fiéis, os cães ladravam como prolongação dos fardados que enchiam o céu
de palavras limpas berrando o nome da mamã. As luzes davam medo. Cada
vez que um brilho cerúleo nos tocava a pele era como um galopar escuro
de metralhada pelas costas. Mamã também fugia do seu pânico de nunca
mais ser. Era a última evasão a ela própria e tinha comprado a liberação
espetando umas tesouras de costura no meio daquele homem asqueroso. Eu
tinha 7 anos e uma espiral infinita de horror e rancor nos olhos.
Furtivas traçámos um ziguezague pelos pátios cúmplices das vizinhas até
chegar aos pés da casa da mulher que curava as sombras.
A cidade crescia aos nossos olhos como um labirinto com boca negra de mal infectuoso
e portas fechadas. Hipócrita com aquelas caminhadas de normalidade pela
avenida que às vezes tinham dado cama de pedra dura para nós. Às poucas
horas começou o nascimento nos arrabaldes da liberdade. A minha irmã
viu a primeira claridade naquele tubo de luz da cozinha cheio de moscas
enquanto as mãos dos fardados punham música de tronos batendo nas portas
daquela casa. No que fora o nosso tecto, o nojento já devia ter enchido
o quarto de sangue e com certeza continuaria berrando como o porco que
era deixando a vida aos poucos. A mamã morreu naquela mesa que cheirava a
gordura de chouriço e a vida nova e para a minha irmã, a luz durou
pouco. A música de trovão terminou e começou o inverno.
Não
deviam ter passado mais de duas ou três semanas e já estávamos na casa
do nosso pai novamente. Aquele prédio mudo era parceiro do maltrato e
senti nojo ao pôr os pés naquele chão de caras conhecidas. No colo dos
senhores da justiça, a minha irmã fechou os olhos antes de ver o rosto
duro e impune daquele monstro.
Neste instante de caneta, tenho
12 anos e também eu tenho as mãos fortes para pegar nas tesouras
justiceiras e orgulhosas de mamã.
TANIA AF - GALIZA
Eles
nunca me dixeron como debía comportarme, non había pautas, non había
cores nin bandeiras na súa casa. Eles non ían da man, non se amaban...
así e todo a min abofé que me amaban... e moito.
Cada un dábame o
mellor de si mesmo, mais por separado. Tiven con el violentas
discusións, parolas noite e día, reconciliacións marabillosas. Tiven con
ela, silencio testemuño, comprensión sen verbas, retranca natural. Tal
era o mundo que nós compartiamos, que non nos decatamos do que acontecía
fóra dos seus valados. De vagar pasaron anos, anos significativos
especialmente para min por mor da miña corta idade, da miña xuventude
despois; anos significativos especialmente para eles por mor da súa
xuventude, da súa madureza despois.
Foi o mundo quen traspasou os nosos valados, eu mozo, eles xa un home
e unha muller, os tres afastados, os tres acubillados en tres novas
cidades. Eu acollín a miña, a que me foi dada, como iso, como acubillo
da miña dor tralo adeus, e segundo me ensinaran non lle apliquei pautas,
nin cores, nin bandeiras; houben de comela dun bocado, de respirala sen
prexuízos, percorrina canso sen descanso, baixe aos seus infernos,
acadei mesmo os seus ceos.
Foi a cidade quen traspasou o meu
“telón de aceiro”. Colliume no seu colo, batiume, mancoume o corpo todo,
púxome do revés. Nas súas rúas, nas súas tabernas, coa súa xente,
esquecinme deles, acordei de min mesmo. De súpeto pasaron anos.
Mais chegou o día no que por fin fun quen de volvelos ver. Paseei polas
súas cidades coma un simple turista que volta ao lugar onde mellor foi
tratado.
Hoxe, a piques de me despedir da miña cidade, non
sinto pesar non, síntome máis feliz ca nunca. Fago turismo varias veces
ao ano e sego sen ter pautas, nin cores nin bandeiras..., por iso
marcho.
EMILIO CAMBEIRO - GALIZA
Chámome
Soult. Cando nacín puxéronme nome de can. Seica era usual no rural da
beira atlántica ter sempre na casa algún can chamado Soult, mais ao eu
nacer xa non había can; así acabei eu co nome.
Hai uns tres
anos deixei o fogar natal no cal me eu criei. Viñen á cidade acompañando
ao meu “amo” nun día de moita calor. Lembro ben o sol a bater forte e
iluminar o grande río. Eu nunca visitara a cidade. Ningunha cidade.
Edificios, estradas, coches, tendas, persoas, bares, fume, luces e luces
e luces e centos e centos de luces que toleaban e fascinaban aos meus
inocentes ollos daquel tempo. A confusión. A loucura.
Ao cabo
dunhas poucas semanas xa lle perdera o pánico, o medo inicial ao
descoñecido. Comecei así a escapar pola noite e percorrer as ruelas dos
diferentes bairros, fascinado pola
contraste entre a pedra, a auga e os farois amarelos a palidecer no
escuro. Mais a miña perdición foi coñecer o meu bairro actual. Ruelas
imposíbeis a se cruzar en mil labirintos escuros que achegan a beira do
río coa montaña, onde está o señorial castelo que a coroa e observa con
desdén ao resto da cidade. Escadas, escadinhas, becos… igrexas, capelas,
panteóns… cantidade desmesurada de rueliñas e igrexas nunca antes vista
polos meus ollos felinos. Apaixoneime da súa noite de tal modo que
todas as noites sentíame estrañamente atraído por unha forza rara, que
me facía fuxir e me dirixir cara o lugar dos mil becos, ao lugar dos
vidros partidos polo chan do que nalgún momento pasado fora unha garrafa
de viño, lanzada violentamente contra as paredes por algún nostálxico
de Avril, até as pelotas da situación actual.
Esta necesidade
de a percorrer cada noite, mesmo como a necesidade do sangue a pasar
polas mil veas que atinxen o meu corpo e me dan a vida, foi o que me
levou a tomar a decisión de fuxir. Non nacera para animal de casa. Non
nacera para agardar ao meu “amo” e dar voltas sobre as súas pernas para
suplicar o meu alimento. Deixarme acariñar coma un parvo para ter
garantido o meu sustento e agardar por el, agardar na casa tendo todo o
bairro para min só… iso si que non.
Aos poucos funme
introducindo na súa vida até o día de hoxe, día que me considero un máis
dos seus habitantes; un máis a percorrer as súas rúas que me dan a
vida. Ser un máis, e compartir con eles os días, compartir as noites,
compartir as vellas mesas de madeira roída que soportan cóbados cansos e
xerras de viño, mentres o silencio sepulcral tacitamente pactado por
todos os que frecuentamos os tascos nocturnos deixa paso á voz e ao
lamento desgarrado. Deixa paso á poesía. Deixa paso á palabra
melancolía.
KUSTER ARAGEM -
Tengo miedo
Tengo miedo porque me voy haciendo mayor y voy perdiendo vista,
reflejos, oído... menos mal que todavía no uso cayá. Tengo miedo porque
los semáforos para los automovilistas en mi ciudad nunca se ponen en
rojo para que pasen los peatones: se ponen en rojo solo para que pasen
otros automovilistas en los cruces. Si solo se cruzan con peatones, los
semáforos de los automovilistas se ponen en ambar, nunca en rojo. Como
dice la madre de un gran escritor cacereño: bienaventurados los que
crean en los pasos de cebra, porque pronto verán a dios.
Tengo
paciencia, todavía, para esperar cinco minutos en cada semáforo, y
piernas para atravesar cuatro carriles en 16 segundos: pero tengo miedo
porque no sé por cuánto tiempo tendré suficiente paciencia y piernas.
Tengo miedo porque mi hijo anda en la
edad del pavo y atiende a todo tipo de pasiones antes de cruzar por un
paso de peatones, y un conductor no tiene en cuenta las pasiones de sus
vecinos preadolescentes o mayores, ni siquiera parece enterarse de que
lleva entre manos la más productiva máquina de matar que la humanidad
ha inventado.
Tengo mucho miedo porque ayer uno de esos artefactos
se llevó por delante a Mario, compañero del equipo de basket de mi hijo,
de 13 años, en el paso de cebra a la puerta del María, y hace unos
meses a Paula, una musa de 11 años, en el paso de cebra del múltiple.
Tengo pánico porque el poder de manejar un arma con ruedas y cilindros a
muchos de mis vecinos les ha sacado de esta realidad a pie de calle que
sufrimos los peatones, sin ser conscientes de que se enfrentan a la que
quizá sea la única máquina de matar más poderosa que su coche: el
terror. Y yo ya tengo terror, no ya de convertirme en un abuelo
hooligan, sino en un auténtico terrorista con cayá que llame a la yihad
peatonal.
Tengo miedo porque me voy haciendo mayor y voy perdiendo vista, reflejos, oído... menos mal que todavía no uso cayá. Tengo miedo porque los semáforos para los automovilistas en mi ciudad nunca se ponen en rojo para que pasen los peatones: se ponen en rojo solo para que pasen otros automovilistas en los cruces. Si solo se cruzan con peatones, los semáforos de los automovilistas se ponen en ambar, nunca en rojo. Como dice la madre de un gran escritor cacereño: bienaventurados los que crean en los pasos de cebra, porque pronto verán a dios.
Tengo paciencia, todavía, para esperar cinco minutos en cada semáforo, y piernas para atravesar cuatro carriles en 16 segundos: pero tengo miedo porque no sé por cuánto tiempo tendré suficiente paciencia y piernas. Tengo miedo porque mi hijo anda en la edad del pavo y atiende a todo tipo de pasiones antes de cruzar por un paso de peatones, y un conductor no tiene en cuenta las pasiones de sus vecinos preadolescentes o mayores, ni siquiera parece enterarse de que lleva entre manos la más productiva máquina de matar que la humanidad ha inventado.
Tengo mucho miedo porque ayer uno de esos artefactos se llevó por delante a Mario, compañero del equipo de basket de mi hijo, de 13 años, en el paso de cebra a la puerta del María, y hace unos meses a Paula, una musa de 11 años, en el paso de cebra del múltiple. Tengo pánico porque el poder de manejar un arma con ruedas y cilindros a muchos de mis vecinos les ha sacado de esta realidad a pie de calle que sufrimos los peatones, sin ser conscientes de que se enfrentan a la que quizá sea la única máquina de matar más poderosa que su coche: el terror. Y yo ya tengo terror, no ya de convertirme en un abuelo hooligan, sino en un auténtico terrorista con cayá que llame a la yihad peatonal.
sábado, 5 de novembro de 2011
MARIA REGINA MONGIARDIM - POTUGAL
VASANT VIHAR - NOVA DELHI
Oiço um sino, uma buzina, campaínhas de bicicleta e um pregão, que em voz ininteligível se repete, anunciando não sei o quê de bem popular, a julgar pela clientela que atrai.
É cedo ainda.
Mal o dia começou, já a agitação se assenhoreou da cidade, do bairro, do quarteirão, da rua onde vivo. O mundo gira lá fora; há gritos, há movimento, há cheiros, há cores...
Olho através das vidraças. Observo o que me rodeia. Sinto este exotismo que me penetra nos sentidos.
Pessoas, animais de várias espécies, carros, motas e bicicletas misturam-se, sem ordem, nem regras, em amena coexistência e plena aceitação.
Aqui e ali grupos de homens tisnados, à conversa, sem pressas e indolentes. Sentados no chão uns, em cadeiras outros, ainda outros de cócoras, de pé os demais.
Entre esses grupos, posso reconhecer os porteiros, seguranças, motoristas e criados, preparando-se para mais um dia de trabalho igual aos outros, nesta cidade abrasadora, desta Índia incandescente.
Perto, com um velho carro de mão transformado em banca de venda ambulante, um homem magro, de tez escura e cabelo vermelho da henna, vai distribuíndo copos de plástico cheios de um líquido verde, extraído de plantas frescas, viçosas, dispostas num balde de plástico, de cor indefinida já esmaecida pelo tempo e falta de limpeza.
Nas ruas circundantes mais próximas, várias mulheres sem idade, agachadas ou de cócoras, limpam das ervas daninhas os passeios esburacados e poeirentos, enquanto outras, encurvadas, vão varrendo as bermas, com curtas vassouras improvisadas feitas de ramas das árvores que lhes fazem sombra, juntando em pequenos montes um lixo que não recolhem.
Perto rondam as vacas sagradas, que irão aproximar-se para procurar alimento, destruindo esses montículos de lixo. As suas bostas, que também ninguém recolhe, alcatifam as ruas, os passeios, os pátios de acesso aos mercados, onde convivem com os alimentos à venda.
Um pouco mais longe, outras mulheres, mais jovens, envoltas nos seus brilhantes saris multicolores, carregam sobre as cabeças erguidas canastas cheias de pedra, tijolos, areia e entulho das obras em que laboriosamente trabalham, enquanto com o seu braço disponível estendido vão orientando os passos indecisos dos seus filhos, quase ainda bebés. Verdadeiros exércitos de mulheres coloridas entram e saem por entre os andaimes de bambú dos prédios em construção.
Mais além, uma mísera barraca esventrada exibe, publicamente e sem pudor, pobres camastros semi-destruídos, um monte de roupa suja, umas panelas negras e amolgadas, uns tristes trastes...
E a seu lado, na berma do passeio, um homem lava os dentes, enquanto outro, com um pequeno púcaro, vai derramando água pelo tronco nu, num asseio habitual e possível nestas precárias condições.
Mais adiante, junto ao tronco de uma frondosa árvore, que serve de suporte a um pequeno espelho corroído e baço, uma velha cadeira de barbeiro, onde um cliente se senta e corta o cabelo.
É este o cenário e o ambiente intenso, de cada manhã, num exclusivo bairro de expatriados e de indianos da classe média-alta em Nova Deli: Vasant Vihar.
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
MARC DARKIN - GALIZA
FINALMENTE
Unha sensación nunca esquecida apoderouse del cando albiscou desde a
cabina a silueta familiar do pequeno planeturbe. Malia tanto tempo de
ausencia, non se apagaran os ecos dunha saudade fraguada en mundos
incriblemente distantes. A tristeza que apreixara o corazón, responsable
dunha marcha necesaria para a propia integridade, xa non o alagaba como
antano. Así un día soubo que por fin viñera o momento do retorno.
Aínda arrastraba no seu interior un pouso de desacougo inevitable, mais
agora semellaba esvaecerse coa vista das vellas torres de Iagostela,
identificables mesmo para moitos que nunca antes se achegaran a tan
remoto confín daquel espacio.
Cantas veces pensara na volta,
nas rúas estreitas do querido planeturbe, naquela tranquilidade case
ingrávida que se rompeu para el un día malfadado, escoitando aquel
antiquísimo cantar que falaba das cidades como libros que se len cos
pés. Os seus pronto relerían nidiamente as liñas que a súa memoria
fixera algo borrosas.
Sentiu o seu ánimo quecer coa proximidade
do lugar onde viñera á vida. Onde seguramente ía rematala. Agora xa non
o agardaba ninguén. Ou si? Lembrou...
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