sábado, 10 de dezembro de 2011

HUGO MALAINHO GARCIA - PORTUGAL

A morte saiu à rua num dia assim...

Numa passada frenética e descompensada, apressou-se a descer aquela imensa escadaria que abria caminho ao grande rio da cidade.
Não sabia o quê, mas algo o impelia nessa direcção. Olhava para trás, por cima do ombro, mas não vislumbrava nada nem ninguém, a cidade estava deserta. Contudo uma estranha sensação percorria-lhe as entranhas. Uma força para a qual não encontrava qualquer explicação, perseguia-o há já largos minutos pelas apertadas ruas do centro histórico. Um sopro de vazio cruzava cada esquina. Não havia uma só alma vagueando na cidade, outrora florescente e cheia de vida. Uma chuva miúda apoderou-se então daquela noite fria.
Acelerou o passo, mas a força inexplicável teimava em não se afastar, sentia o seu bafo quente percorrer lentamente a sua espinha. Um turbilhão de pensamentos e de interrogações assaltavam a sua mente, catapultados pelo seu desespero.
“O que é que vem atrás de mim? Porque me persegue? E porque é que a cidade está vazia? Preciso de ajuda...”
A agua escorria agora pelo seu rosto empapado pela chuva, o passo estava cada vez mais acelerado, palmilhando incansavelmente as estreitas ruelas, procurando alguém que o pudesse ajudar.
Foi então que sentiu uma pesada mão poisar sobre o seu ombro. Aterrorizado, parou. Voltou-se para trás com o terror estampado no rosto. Em segundos, toda a sua vida percorreu-lhe os pensamentos. Aqueles momentos especiais que recorda com saudade da sua inocência de infância, os momentos em que ele mesmo pode testemunhar essa inocência com o seu filho.
Lentamente, como quem tem dificuldade em aceitar o seu destino mas que outra opção não lhe resta senão encarar a dura realidade, abriu os olhos. Subitamente, um frio sepulcral percorreu o seu corpo até se transformar numa lágrima que esculpiu os seu olhos, era o seu filho que estava diante.

Hugo Malainho Garcia

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