quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
PACOCHO CORBEIRA - GALIZA
Boto a faltar o son da túa gaita. Poño a vella casette na pletina. Non é doado. Teño que esquecer pensar que es ti. Pero non podo. A gaita está deitada, baleira, no chan frío. Non podo deixar de ver esa imaxe. Soa a música. Lembro perfectamente aquel concerto. Ti soprábaslle a orixe mesma da vida, de onde ven o alento, invadíndoo todo dese son que é espello dos ritmos nos que nós recoñecémonos. E por riba de todo unha parte de ti, que non sei definir. A guinda que puñas, ese plus, valor engadido, feeling, ou coma queiras chamalo. Como se as notas do teu pentagrama viñeran unha tras doutra, collidas da man, e nese punto, se fundiran. Como se converteras en curvas tódalas arestas. Como se modularas cada nota para arrincar da gaita un pouco máis aínda. E a gaita estaba viva. Cheiraba a irreprimible xuventude, a taberna, a campo da festa, a rúa, a esmorga e a foliada. Sinto a saudade do son da túa gaita. Pero teño que apagar esa música. Non é mais ca unha vella gravación sen matices, sen todo o demais, e tamén, sen ti. As cousas, para o teu coñecemento, non foron nunca máis iguais. Quedou o teu xeito, o teu espírito, a túa música. E iso témolo todos os que te coñecemos, os que te escoitamos, dentro de todos nós, e xa é parte de nós mesmos.
Para Carlitos Zaera (In memorian)
domingo, 11 de dezembro de 2011
JOÃO SOUSA - PORTUGAL
Olhava
de lado. Desconfiava sempre da luz amarela dos candeeiros que
atormentavam o quarto por entre os buracos do estore. Os camiões
carregavam em simultâneo o ruído e as mercadorias - símbolos da
distância duma nova aurora. Os sonhos tornavam-se autoestradas, e
vagueava entre as portagens da alma e os postos de serviço que a
despertavam para a vida.
Não tinha carro e sabia bem como andar
entre os comboios e os autocarros da vila. Sentava-se ou ficava de pé
numa das carruagens do metro... e olhava como só as carruagens à frente
se moviam. A sua estava parada mesmo com o metro em movimento.
Os
pensamentos paravam entre as estações, e as recordações faziam um jogo
sujo entre o passado e o desejo de um futuro. Os frutos da sua
imaginação cresciam nas árvores asfixiadas pelos tubos de escape,
pelos bêbados que as mijavam e circulavam no próprio vómito e barulho.
As festas internas da sua convicção estavam fechadas a um número
específico de emoções, só algumas tinham entrada-livre.
A porta
do autocarro abria em cada paragem - as velhotas entravam e
atrapalhavam-se, contado trocos e pedindo desculpa ao poste fixo no meio
do autocarro, convencidas de que iam contra alguém. A poesia nascia
entre os prédio cada dia mais altos - versos cada dia mais baixos,
lágrimas cada dia mais soltas.
Os candeeiros apagaram e o Sol
acendeu o resto da casa. Era dia, e a noite não queria mais adormecer.
Com esforço, olhando para os bilhetes pré-pagos, bebia um café e fumava o
primeiro de muitos cigarros. Impressionantes, as figuras do fumo
espelhadas na alma.
sábado, 10 de dezembro de 2011
HUGO MALAINHO GARCIA - PORTUGAL
A morte saiu à rua num dia assim...
Numa passada frenética e descompensada, apressou-se a descer aquela imensa escadaria que abria caminho ao grande rio da cidade.
Não sabia o quê, mas algo o impelia nessa direcção. Olhava para trás,
por cima do ombro, mas não vislumbrava nada nem ninguém, a cidade estava
deserta. Contudo uma estranha sensação percorria-lhe as entranhas. Uma
força para a qual não encontrava qualquer explicação, perseguia-o há já
largos minutos pelas apertadas ruas do centro histórico. Um sopro de
vazio cruzava cada esquina. Não havia uma só alma vagueando na cidade,
outrora florescente e cheia de vida. Uma chuva miúda apoderou-se então
daquela noite fria.
Acelerou o passo, mas a força inexplicável teimava em não se afastar, sentia o seu bafo quente percorrer lentamente a sua espinha. Um turbilhão de pensamentos e de interrogações assaltavam a sua mente, catapultados pelo seu desespero.
“O que é que vem atrás de mim? Porque me persegue? E porque é que a cidade está vazia? Preciso de ajuda...”
A agua escorria agora pelo seu rosto empapado pela chuva, o passo
estava cada vez mais acelerado, palmilhando incansavelmente as estreitas
ruelas, procurando alguém que o pudesse ajudar.
Foi então que
sentiu uma pesada mão poisar sobre o seu ombro. Aterrorizado, parou.
Voltou-se para trás com o terror estampado no rosto. Em segundos, toda a
sua vida percorreu-lhe os pensamentos. Aqueles momentos especiais que
recorda com saudade da sua inocência de infância, os momentos em que ele
mesmo pode testemunhar essa inocência com o seu filho.
Lentamente,
como quem tem dificuldade em aceitar o seu destino mas que outra opção
não lhe resta senão encarar a dura realidade, abriu os olhos.
Subitamente, um frio sepulcral percorreu o seu corpo até se transformar
numa lágrima que esculpiu os seu olhos, era o seu filho que estava
diante.
Hugo Malainho Garcia
PACOCHO CORBEIRA - GALIZA
MORTE
Loitei contra a morte
na máis triste
de tódalas batallas.
E perdín.
Preguei a tódolos deuses
en que cren os homes
e o silencio foi vidro
en que estrelei a fe.
na máis triste
de tódalas batallas.
E perdín.
Preguei a tódolos deuses
en que cren os homes
e o silencio foi vidro
en que estrelei a fe.
Non serviron as armas
da ciencia,
da esperanza,
nin do amor.
Xamais houbo respostas.
Nin nunca as haberá:
serán os meus "por que"
como ecos no vento
ouveando sen parar.
Quedará a miña dor
para sempre comigo,
impedindo achegarme
ao teu recordo
e abeirarme nel.
Quedará a impotencia
de sabermos vencidos
onde xa nunca
voltaremos gañar.
E queda a certeza
de que xa non hai mañá.
Nin tan sequera nada
que pague a pena
conservar.
Que é tan só este momento,
este intre, apenas.
E a vida vaise xa.
PATB CM - GALIZA
Chovia na rua ,ninguen prestaba atencion nos seus ollos asomaban as baguas que ninguen escoitaba ,eran asbaguas do silencio ,da soidade que escoitan os pasos dos que veñen e se van ,dos que se abrigan ,dos que se mollan ,dos que retornan , dos que nunca se perderon ,os que ficaron en algures mais abagua e como un aullido no corazon de moitos que non teñen noticias ni parabens e un camiño sense saber se atoparas retorno e aporta feita con espiñas dos nomes de quen buscan e non atopan.Nais ,pais ,irmas,fillos e curmans todos viven e coñecen esa bagua que casi ninguen olla mais no se esquece
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
DIOGO GODINHO - PORTUGAL
De
súbito, já estava à porta. As ruas da madrugada vieram-lhe habitar os
escombros da isolação. Saiu à luz da alba. Cruzou avenidas, arrancou
cruzamentos, destapou ruas-ruelas, entranhou-se nos pulmões da cidade.
Respirou. Em cada baque agarrou as mãos ao batimento da urbe. Os carros
não passaram, as avenidas não se cruzaram, as passadeiras ficaram
inertes à espera do próximo trauseunte. Da cidade, o coração-baixa ficou
estanque. Inundaram-se de pálido todas as praças. Ninguém passou. Os
semáforos pararam. A sinalização dos semáforos comandou o destino para
onde já ninguém ia. Havia vermelho de sinais em progressão estática no
tempo. As luzes fecharam-se. Mergulhou na cidade.
De súbito, abriu a porta. Apagou as luzes que restavam da última noite. Fez-se ruído a bater nas orelhas do silêncio
que habitava as estradas. Saiu para a consumação do posterior dia.
Despiu-se dos escombros que o isolavam. Agarrou na coragem, guardou-a na
algibeira e acendeu um cigarro. Lentamente, a digressão dos seus passos
chacinou o peso da atmosfera que o engolia. Saiu para fora de tudo.
Saiu de casa. Percorreu a efeméride da urbe de uma ponta à outra. Os
seus olhos-de-lava evaporaram-se na submissão dos candeeiros. Queimou as
luzes. Acendeu de óleo novas estações. Disparou os motores em inércia.
Fechou os olhos. Dentro de si, recriou novamente a cidade.
De
súbito, cessou o sonho. Em distância, fechou a câmara da rodagem
nocturna. Colou as sequências, uma a uma, calçada atrás de calçada na
figuração geométrica do seu puzzle de sonhos. Juntou as visões, e o
meditar sobre elas. Havia sobriedade a passar no seu painel de vigília.
Guardou os livros na estante. Abriu a casa ao exterior. Em retardo, o
sémen da estrela de todas as manhãs veio iundar a casa. Arrumou a um
canto, o ébrio sonho em garrafas da noite anterior. Despiu-se da sua
manipulação de genesis num retrato de urbe ao relento no fim dos dias.
Não procriou. Abriu a janela. Lá fora, de súbito, havia uma cidade em
concrecto.
Diogo Godinho
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
EMILIO CAMBEIRO - GALIZA
Esta
noite pasada, voltando para a casa ás tres e pico da mañá, ao xirar
unha ruela calquera da Alfama profunda atopeime mesmo de frente a un
ruso impecabelmente vestido de branco, barbazas mestas, cabelo
longuísimo e mal coidado; a xogar cun puñal de 8 cms de folla branca
entre os seus fráxiles dediños.
Acojoneime. Acojoneime como
cando de novo ía roubar as fresas do tío Pedro e este botábanos ao
Soult, o seu pastor alemán. Mais de súpeto unha risada familiar
tranquilizoume; e máis tranquilizáronme as palabras a seguir á risada.
Non te preocupes Emilio, é Rasputín. Un colega. Mirei ao lugar de onde
viñera a voz, e alí sentados nunhas escadiñas estaba o Antonio Mira
xunto cun mariñeiro.
O mariño ergueu e chamou polo ruso. Despediuse cun aceno do Antón mentres eu seguía alí no medio, pet...rificado,
co medo pasado pola figura sinistra do tal Rasputín. Os dous individuos
perdéronse na noite entre as ruelas, mais podíase escoitar sen problema
a voz ronca do ruso a dicir: Viches Corto. Viches ise grande que case
morre só con me mirar? Sabes que se quixera o podería matar. Sábelo,
vérdade?
Boteille un brazo por riba ao Antón. Veña, preciso
dun trago. Dixen con pingas de suor frío a percorrer aínda a cara.
Mentres que encamiñabamos os pasos por unha rueliña diferente do que ía a
outra estraña parella.
Mais con quen é que te xuntas ti agora,
meu Antonciño. Acertei a dicir. Con outros coma nós. Respondeu o amigo
cun enorme sorriso.
Sabes? Aínda me caeu ben o tal Rasputín. Mais o outro, o mariño co que estabas sentado... tíñache unha cara de papahostias!!!
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